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Educação e ensino de sociologia em tempos de pandemia no Paraná

Eu não tenho internet em casa e pelo celular fica complicado acessar porque é muita coisa para assistir, tenho de usar os dados móveis e fica muito caro. Além disso tenho de trabalhar para ajudar em casa, estou triste porque acho que vou reprovar de ano.¹

A iniciativa do pergunta ao Prof., desenvolvida em parceria pelo multiHlab –

Fundaj, Lenpes, PIBID e Residência Pedagógica do curso de Licenciatura em

Ciências Sociais da UEL ocorreu num cenário de grave crise sanitária. No início do mês

junho, o Brasil superou a triste marca de 470.000 mil mortes. No Paraná, 27.000 mil

pessoas perderam a vida.


Este cenário impactou fortemente à educação básica no Paraná e

consequentemente o ensino de sociologia. Ensino híbrido, remoto, atividades educativas

à distância transformaram-se em expressões comuns no dia a dia escolar.


No mês de março de 2020, o governo do estado do Paraná interrompeu as aulas

presenciais como uma das medidas de prevenção ao (COVID-19)². Na sequência, o

Conselho Estadual de Educação – CEE autorizou a possibilidade da oferta das atividades

educativas à distância (parecer nº 01/2020) e a SEED por meio da a Resolução

SEED/PR nº 1016/2020 e demais regulamentaram o processo na rede estadual do

Paraná.


Desde então, as atividades à distância têm ocorrido por meio de uma proposta

denominada de solução EAD. No ano de 2020, a oferta aos estudantes ocorreu por meio

das seguintes ferramentas: aulas em canal de TV aberta e no Youtube, aplicativo Aula

Paraná, a plataforma Google Classroom e o fornecimento de atividades impressas. No ano letivo de 2021, a aula síncrona utilizando o Google Meet transformou a principal forma de oferta das atividades à distância. A partir do mês de maio de 2021, iniciou-se o processo de retorno das aulas presenciais no modelo híbrido em diversas regiões do estado.


A “urgência” do momento significou o crescimento do uso das plataformas

digitais nas redes educacionais em todo o país. A digitalização dos processos

educacionais é uma tendência que “veio para ficar”. Tal processo, não ocorre dissociado

do aprofundamento das políticas educacionais neoliberais.


Infelizmente, o estado do Paraná constitui-se num laboratório fecundo para tais

iniciativas na atualidade. A plataformização fortaleceu uma política educacional que

valoriza os sistemas de avaliação externos e o controle da prática escolar. A tecnologia

pensada pela perspectiva do controle, fez com quem a SEED/PR determinasse que a

presença dos estudantes nas aulas síncronas condiciona-se à obrigatoriedade da abertura

da câmera por 40 minutos em cada aula. Neste modelo, o professor(a) perde espaço no

planejamento de sua prática docente, na definição dos conteúdos, dos objetivos de

aprendizagem e dos critérios de avaliação


O ensino remoto tem aumentado a precarização das condições do trabalho

docente e aprofundado as desigualdades educacionais. Pesquisa realizada pela APP Sindicato – Londrina e por projetos de pesquisa e extensão dos departamentos de Ciências Sociais e Educação da UEL permitiu perceber que apenas 30% dos estudantes participaram

efetivamente das atividades educativas à distância no ano de 2020. Além disso, 93,6%

dos professores(as) afirmaram que trabalharam mais do que a carga horária semanal

para orientar e corrigir atividades dos estudantes, 83,2% indicaram que os materiais

disponibilizados pela SEED/PR são insuficientes para ajudar no acompanhamento e na

orientação dos estudantes e 85,7% dos participantes afirmam ter a saúde afetada³.


¹ A frase foi extraída do depoimento da estudante Beatriz Garcia Lima, 16 anos. O material é um trecho da série produzida pela jornalista Elza Caldeira, “Aulas Remotas: muito trabalho, pouco aprendizado” (acesso em 22. Mai. 2020).

² O decreto nº 4320/2020 estabeleceu esta medida.

³ Os dados da pesquisa podem ser encontrados aqui e aqui (acesso em 03/06/2021).



 

Escrito por Rogério Nunes da Silva, docente da Rede Pública de Ensino desde 2009 e graduado em Ciências Sociais na Universidade Estadual de Londrina (2004) e em Direito também na UEL (2016).

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