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Foto do escritorHenrique Adamoli Gome dos Santos

O Colégio José de Anchieta e as aulas de Sociologia no ambiente virtual



O Colégio Jose de Anchieta e as aulas de Sociologia virtual

É de comum conhecimento que o vírus Sars-Cov-2, causador da doença respiratória COVID-19, abalou grande parte das estruturas sociais que serviam de base para a edificação das mais diversas sociedades ao redor do globo. Particularizando tal problemática para a realidade brasileira podemos citar uma série de fenômenos que foram amplamente observados desde o primeiro trimestre de 2020, como o estabelecimento de medidas profiláticas individuais específicas ao novo coronavírus, a restrição de funcionamento das atividades comerciais ou serviços e adaptação das atividades laborais aos mais diversos métodos remotos. Tais adaptações também foram necessárias às instituições de ensino, que foram completamente transferidas para os ambientes virtuais de aprendizagem, como Google Sala de Aula e Microsoft Teams. Repentinamente, o espaço físico escolar tornou-se o espaço físico das casas de estudantes e profissionais envolvidos na educação. A sala de aula, carteiras, cadernos e materiais pedagógicos se tornaram computadores, celulares, reuniões virtuais e documentos. O ambiente escolar presencial, até então conhecido pelo barulho das interações verbais, foi substituído pelo ambiente escolar virtual, baseado fundamentalmente nas trocas textuais e imagéticas.


Colégio Estadual José de Anchieta - Ambiente Físico


A SOCIOLOGIA VIRTUAL NO 3º ANO DO ENSINO MÉDIO


Entretanto, todas as diferenças do sistema educacional apontadas acima são facilmente perceptíveis por conta das básicas diferenças que separam presencial e virtual. Dessa maneira, é necessário uma qualificação analítica para percebermos as mudanças que estão ocorrendo para além daquilo que até mesmo a consciência ingênua é capaz de apreender. Portanto, a observação participante realizada pelos bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), em Ciências Sociais, e, desse modo, a partir da observação das aulas de Sociologia, ministradas pelo Prof. Rogério Nunes, é o perfeito ponto de partida para a compreensão e análise do Colégio Estadual José de Anchieta inserido no meio virtual. Este texto toma como objeto de análise as turmas do último ano do ciclo escolar obrigatório, o “3º Ano A” e o “3º Ano B”. Assim como definido pelo governo estadual paranaense, ambas as turmas apresentam, em suas grades curriculares, uma aula de Sociologia, totalizando 50 minutos semanalmente. As aulas do 3º Ano B são as primeiras aulas de segunda-feira, das 07:30 às 08:20. Já as do 3º Ano A são logo em seguida, segunda aula de segunda-feira, das 08:20 às 09:10.

Além disso, é importante ressaltar que ambas as turmas analisadas apresentam um comportamento extremamente parecido com relação às aulas de Sociologia no ambiente virtual, sendo até mesmo complexo separá-las como duas turmas diferentes, visto que as análises para a turma “B” servirão para a turma “A” e vice-versa. Desse modo, utilizaremos a generalização: 3º anos das segundas-feiras como equivalente para as turmas supracitadas.

Ademais, avançando nas caracterização básica, as aulas de Sociologia no ambiente virtual seguem um padrão estabelecido pela Secretaria de Educação e do Esporte do Paraná (SEED/PR), tendo uma sala de aula virtual aberta e funcionando no Google Sala de Aula e encontros virtuais, pelo Google Meet, que respeitam as grade horário das turmas. Os encontros virtuais apresentam um bom número de alunos conectados, com uma média de 29 estudantes, que se somam ao professor e bolsistas, totalizando 33 conectados por aula.

Devemos compreender que o fato de existir uma conta Google conectada ao Meet não garante que o indivíduo esteja desempenhando a função “estudante”, visto que todos utilizam o recurso do bloqueio da câmera e do áudio durante praticamente todo o decorrer da aula, excetuando-se os momentos de chamada e quando convocados, nominalmente, para responder à algum questionamento. Entretanto, mesmo nestas exceções, a câmera mantém-se fechada sendo utilizado apenas o áudio. Dessa maneira, compreende-se que o ambiente virtual basicamente corrobora pela transformação da aula em seminário, visto que todas as interações professor-aluno partem do docente. Para além disso, podemos indicar algumas hipóteses para o bloqueio das câmeras como, a má qualidade do aparelho utilizado e a não existência de um recurso de vídeo, hipóteses que pressupõem dificuldades técnico-materiais. Ou, a invasão do espaço privado da casa, vergonha dos colegas e o não cumprimento com o comportamento estudantil normalmente estabelecido (uso de uniformes, sentados em mesas e anotações), partindo de pressupostos socioculturais, que se contradizem, relacionados ao estar em casa, fato que os deixam relaxados em seu ambiente particular, mas desempenhando a função estrutural-social da escola.

Apesar de tudo que fora ressaltado anteriormente, devemos sensibilizar-nos com relação à participação dos alunos em sala de aula. Mesmo que só respondam quando nominalmente convocados, eles o fazem, em geral rapidamente e com respostas condizentes tanto à série escolar, quanto ao requisitado pelo docente. Não obstante, os alunos cumprem com a maior parte das tarefas, provas e, no geral, avaliações que são propostas tanto pelo Prof.º Rogério Nunes, quanto pela SEED/PR.

Dessa maneira, torna-se impossível afirmarmos que os discentes ignoram as aulas ou conteúdo programático previsto pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), visto que cumprem o processo pedagógico básico: estão em aula, fato comprovado pela lista de presença preenchida pelo docente; E estão provando seu aprendizado com a realização das avaliações que atinjam a nota mínima pré-estabelecida.


Colégio Estadual José de Anchieta - Ambiente Virtual


AS MUDANÇAS E AS CONTINUIDADES DA ESCOLA VIRTUAL


Em suma, pode-se concluir que a leitura da escola virtual, considerando a conjuntura de ser adaptada rapidamente por conta da COVID-19, é um amplo sucesso. As salas de aula tornaram-se Google Sala de Aula. Os alunos continuam recebendo o conteúdo programático através de aulas online via Google Meet. A figura e dinâmica de professor-aluno existe, de certo modo, durante os cinquenta minutos em que se encontram. Os discentes cumprem com as avaliações programadas. Ou seja, se tomarmos como base o funcionamento básico da instituição escolar não há prejuízos, sendo, portanto, um método de ensino que cumpre com o que se espera da escola. Entretanto, toda a análise anterior ignora pontos essenciais para a composição pedagógica. Se a sala de aula era, outrora, um rico espaço de trocas verbais e não-verbais, atualmente ela se reduz a seminários docentes. Além disso, há um grande distanciamento dos alunos com o Colégio José de Anchieta, visto que ele deixou de ser físico, estar numa rua, ter portão, funcionários, barulhos, vivências, memórias e tornou-se um genérico link e código Google. E, por fim, a pior das mudanças: toda a lógica escolar baseava-se, inteiramente, no convívio, no coletivo, na diferença, no diálogo, no conflito e na resolução. Atualmente, tudo foi reduzido ao nível individual, de modo que os alunos nutrem relações mecânicas com a instituição e colegas de sala, distanciando-se de ambos.

Dessa maneira, podemos afirmar que a observação participante realizada dentro das aulas de Sociologia virtual revelam-nos uma série de problemáticas que estavam, anteriormente, encobertas pela consciência ingênua. Portanto, se levarmos em conta apenas dois critérios avaliativos, assiduidade nas aulas e cumprimento das avaliações, todo o processo escolar virtual realizado desde 2020 é um grande sucesso. Contudo, ao analisarmos a fundo o processo pedagógico percebemos que os dois critérios supracitados, ainda que importantes, pouco dizem a respeito do real funcionamento do Colégio José de Anchieta durante o período pandêmico.






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